domingo, 10 de janeiro de 2016

Aos meus pés cai sua máscara já decrépita e moribunda, e tal como vidro temperado se desfaz em milhão. Esmigalhada em tantas partes que se torna impossível a reconstituição. Eis que ela se desfaz de forma definitiva e irremediável, irreversível. Pela primeira vez, em anos, seu rosto se mostra como é. Tu desnudo diante de mim. Eu, cuidadosa admirando suas feições. Me perco nos detalhes, tens atenção não só dos meus olhos, mas dos meus ouvidos, mãos, dedos, me aproximo com a boca e sinto também o gosto. É certo que por certo não sei a que devo a honra de poder ver-te assim. Eu, que não sou mais que ninguém mas que cheguei mais longe que as anteriores, desconheço os motivos de minha façanha, contemplo sua realização inegável. Como pode? Como pude?
Então, estamos aqui, um diante do outro: vendo o que somos, o que temos. Meu feito me torna única e especial, digna de amor, e de subir ao trono como rainha, aos seu lado e de mãos dadas contigo.
Quer me coroar de imediato e propõe mais ouro do que eu poderia guardar, exibir, aceitar ou usufruir. É demasiado. Não tarda a sensação de estar sendo privada de ar, a sensação de estar sendo sufocada me toma o peito. Angústia. Medo, inquietude. Uma garganta arranhada, um vazio no estomago, gelo nas mãos, nuvens nos pensamentos. Um emaranhado de sentimentos. Tento organizar a mim mesma, tento refazer a mim mesma. Busco minhas referências, vasculho minha alma atrás de minha identidade, dos meus sonhos, minhas crenças, desejos. E misturado a isso ponhe-se a tona também inseguranças, dúvidas, tormentos.
Já não arrisco o que quero, já não afirmo o que sou, perco a precisão daquilo me constitui, daquilo que me caracteriza de forma idiossincrática. Puxo o freio. Do para quedas, agora alcanço o chão. O quanto te quero, chão. Com os dois pés plantados no chão, ergo a cabeça e contemplo o horizonte, esperando para ver o que o novo nascer sol tem para me oferecer. Ansiosamente e esperançosa, quis descansar e parei para admirar o dia que vem. Decidi viver apenas ele, respeitando a vez de cada um dos dias: vivendo um de cada vez e conforme forem surgindo por de trás das estrelas.

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