sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sexta- feira Santa

Pode parecer pretensão. E, na verdade é. Joana achava que Vitor tinha ficado muito chato sem ela. Fazia dois anos e dois meses que eles tinham terminado e ela o acompanhava a distância. Hoje em dia, com a internet, podemos espiar quem a gente quizer, todo mundo acabou capturado por alguma artimanha virtual. De vez em quando ela o fuçava. E tudo que ela encontrava era uma versão de outra coisa. É, como se ele houvesse se tornado uma versão de si mesmo e mentisse, mentisse muito sobre quem era. Inventasse histórias e mais histórias de si mesmo e para si mesmo, só para não aparecer, para não se mostrar, se proteger do mundo, das mulheres. Era claro que Vitor não queria atrair mulheres, não com todo aquele papo chato de futebol, política e baboseiras inúteis que ninguém quer saber de fato. Tudo bem que o que todo mundo quer saber, a gente não deve mostar para criar um certo mistério e dispertar o anseio pla descoberta, aguçar a curiosidade. Mas convenhamos que esse papinho furado repelia, não instigava. "Será que ainda me ama?". E empalideceu a essa revelação. "É isso, é obvio, ainda é apaixonado por mim!", foi a resposta que encontrou para toda chatisse do ex-namorado. "Por isso toda essa caricatura, quer afastar a todas porque no fundo me quer! Coitado, e não deve estar com coragem de dizer...". Não depois do grande fim.
Joana ficou algumas noites pensando em como contar a Vitor que ela já sabia e poupá-lo de todo constrangimento de ter de lhe contar a verdade. Decidiu ligar para Vitor para marcar uma saída. Ela sentiu mesmo aquilo como uma obrigação, o pobre estava mesmo precisando de ajuda, precisava mesmo que Joana voltasse a dar a ele alegria de viver. Morar na internet não é vida. Ela ficava imaginando que ele devia passar o fim de semana inteiro dormindo, twittando e vendo filme pornô fazendo exatamente o que estão pensando. Pobre Vitor! Certamente precisava de uma mulher! Todos aqueles textos e discursos estavam precisando de um pouco de cor de rosa, todos fedendo a casa suja e com aspecto de barba por fazer. E não precisava de uma mulher qualquer, senão já teria conseguido, era dela que ele precisava, de Joana, era porque sentia falta dela e somente dela. Encontar Vitor era mais do que um favor pelos anos felizes que tiveram, era sua missão. Questão mesmo de acertar as contas com Deus.
Respirou fundo como se recebesse a benção e ligou. Vitor pareceu surpreso, mas aceitou encontrá-la, achou que a coitada estava precisando tirar o atraso. Marcaram para sexta. Ela encheu a alma com a satisfação dos justos, dos bons de coração, dos piedosos. Faria o que fosse possível em nome da caridade. Era muito prestativa a Joana, jamais deixaria alguém assim, na mão.

sábado, 3 de abril de 2010

Se dizem que a gente é que atrai as coisas, como é possível culpar o destino por nos fazer lembrar de alguém?