domingo, 24 de junho de 2012

Busco a arte para justificar minha impureza. Escrevo, pinto, declamo. Tudo é para esquecer, é para me redimir. Busco pelas obras, a fim de  diminuir meu pecado e minha culpa. Vejo que sou como as figuras que encaro. Igualmente suja. Nelas espelho toda minha desgraça.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ao molde DisneyWord

Hoje me perguntei onde estaria minha felicidade. Nem a chuva fina fez com que fosse para casa. Precisava ficar e pensar um pouco mais. Estaria na gatinha no caminho que me pede carinho? Estaria nas risadas raras entre as amigas verdadeiras? Estaria na parte que me diz na filosofia? Estaria no rodar da roupa branca, nos dias de festa, nos dias comuns? Na soneca da tarde? Estaria no dever comprido? No livro bonito? Estaria no vinho? Na piada da criança? No grande amor? No menino de cachos? Onde estará minha felicidade? Sabia que o descanso estava no prato de comida, que o alívio estava nas quedas no tatame, que a esperança estava no acordar, a tristeza estava no viver e a barreira na minha cabeça. Mas e a felicidade?


A pergunta rodava, e minha cabeça zonza, revirava no compasso de trazer para dança cada detalhe que pudesse preencher o refrão. A rima para felicidade, qual seria? Só obtive momentos, instantes eternos que logo se vão. E a melodia muda, não quer se tornar popular, não quer cair na boca do povo e nem ser ouvida por todos ou por qualquer um. É preciso ouvidos atentos, mas desinteressados, não ouvidos que buscam em qualquer composição. Também não serve aos ouvidos que nunca a esperam ouvir. É preciso ouvidos despreparados, que nada esperam, mas estão abertos para que se um dia soar a melodia da felicidade, por ela se deixem tocar.

Percebi que a verdadeira felicidade, a felicidade plena, está no que eu não vivi, No que eu não comi, no que não assisti, no que eu não senti, no que eu sei, no que eu não conheço, no que não é meu. Como posso eu dizer que aí está ela? Nada sei do que não fui. Nada posso saber das coisas que não provei, ou das pessoas que não me foram apresentadas, ou dos filmes que não assisti. Nada posso saber do amor que não pude concretizar, do trabalho que deixei de fazer, da profissão que não escolhi, do dinheiro que não ganhei, das vontades que pereceram. Como posso ser feliz onde não existo?

Talvez, só mesmo na imaginação se possa ser feliz, ao molde DisneyWord.