domingo, 15 de maio de 2016

Dessa outra ponta da vida foi confuso conhecer vocês. Ainda busco a clareza de definir os sentimentos que afluíram. Veio de dentro, bem de dentro, de um lugar que saberia alcançar com a mão ou apontar. Inveja seria um sentimento óbvio de mais para um ser humano exótico como eu. Não foi isso. Antes de tudo foi um susto, um leve choque, como tomar um tapa na cara aleatório, andando na rua, sem muito motivo, sem ter feito nada, enquanto ouvia uma música qualquer e passava na mente a lista dos afazerem do dia. E aí. nesse instante tranquilo e banal: tapa na cara. Sem aviso. Essa foi a sensação número um, vamos mapear para que me fique mais fácil. É verdade que a seguir de um choque como esse só pode vir um queixo caído, uma cara de boba e uns instantes de observação. E vi ali, diante de mim uma conexão leve entre duas pessoas, singela, expressa em sorrisos e brincadeiras. Vocês dois, naturalmente sendo vocês mesmos, um para o outro. dançando e tirando sarro. A sintonia fácil de duas pessoas que se deram bem, se curtiram. Qualquer um que passasse e visse reconheceria a parceria e doçura. Não era meloso, não era forçado, nem era intenso. Era simples. Recíproco e equilibrado, os dois estava no mesmo nível de tudo, ninguém a mais do que o outro em nada. Era natural. Era uma faca atravessando meu peito, uma corda no meu pescoço, como se alguém me empurrasse de um penhasco e eu rolasse. E, enquanto rolava entendia toda minha morte. Reconheci o desenrolar de uma boa relação, e eu que escrevo com fluência, estou bem travada diante dessa página agora. Porque trata-se de um momento tão antigo, tão fundo dentro de mim que meu vocabulário atual não tem repertório para ele. Já teve.E essa ausência é mesmo a representação do buraco que a facada no peito abriu. Entre músicas velhas e livros escolares, resgato uma adolescente que sabia dessa naturalidade de encontrar alguém e curtir aquele momento. Mostrando o quanto era legal e o quanto era divertida. Sem saber que tudo isso nunca mais aconteceria na vida dela, ela ria e era ela mesma. Com quem quer que fosse. Tinha um monte de caras na mesma sintonia que ela. Saíam, aproveitavam, era fácil, era como tudo deve ser. Mas foi o tempo passando e muito tempo desperdiçado com uma pessoa só que fizeram com que talvez ela tenha perdido boas chances. Foi o passar dos anos, foram as pessoas se casando ao redor, os bons caras os legais, e os chatos também. E aí, chega um ponto da vida que as pessoas da sua idade viveram tantas coisas, passaram por tanta gente, que nunca mais foi fácil. Nunca mais fluiu. Nunca mais houve apenas o presente. Todo mundo que ela conhecia tinha uma carga de passado e marcas inegáveis de tantos outros relacionamentos e pessoas que em algum momento, um fantasma desses aparecia (dentro dela ou dentro das outras pessoas) e se tornava questão de tempo para que tudo desandasse. E aí, agora, nesse ponto da vida, ver vocês foi ... reticências. Foi reticente. Foi sem nome. Ainda impreciso. Não trouxe esperança. E realmente me perguntei porque não acontece comigo... porque nunca mais aconteceu. E na verdade me deu a sensação de ser tão improvável acontecer quanto ver isso de novo num outro par. Talvez não seja pessoal, mas apenas raro que existam amizades-paixões-de-amor aos 30 anos.