quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Entre nuvens

Antes, queria dizer que esse texto não deu conta do que quiz dizer.


“Uma paixão é uma paixão”, ouvi num filme. Aliás, um filme muito bom, que muito recomendo: “O segredo dos seus olhos”. Bolei. Desconfiei. Fiquei matutando. O sentido era: uma paixão meu caro, dura para sempre, não tem jeito, é uma paixão. Não há como escapar, podem passar os anos, pode passar o que for, que se for paixão, fica.

Vi o filme duas vezes e foi um outro filme que vi hoje que me trouxe mais uma vez a idéia. Fico dividida. Tem dias que concordo com uma paixão assim, tem dias que não. Digamos que hoje estou no dia a favor do filme, mas antes vou dizer o que daí me incomoda. É essa coisa atemporal que a coisa ganha, imutável, eterno, intocável, impenetrável e determinante. Meio cachorro no cio sabe, instinto mesmo... E sou a favor da idéia de que tudo-muda-sempre-o-tempo-todo-no-mundo e as paixões não estariam fora disso, isentas, salvas a mudanças de opinião. Ora, se mudamos de gosto o tempo todo na vida... Essa paixão aí fica com cara de essência, sei lá. Isso me incomoda. Parece algo mais forte, que domina, um destino a que somos condenados. Só conseguimos ceder, pobres vacas-de-presépio.

No entanto, tenho que concordar um tanto quanto a contragosto com essa força. Tem coisas sim, que sou apaixonada. E que a vida toda me convocaram de uma forma singular. Fiquei pensando no movimento que tenho feito agora, a nível de vida. Nas duas vezes que vi o filme e mesmo depois, em vários momentos, fiquei me perguntando (com medo de descobrir e de confessar) qual seria minha paixão, ou quais seriam. No início achei que não tinha nenhuma. Me esforçando para pensar em algo que me dedico a anos e com séria dedicação, cheguei a paixão pela prática de atividades físicas. É realmente eu gosto e perco muitas coisas em prol dessa “paixão”. Tive medo de pensar nas minhas paixões porque via isso, como já disse como um certo aprisionamento e, de certa forma, minha dedicação nas academias da vida ilustram bem isso. Quase um vício mesmo. Quase, ainda bem!

Depois pensei em pessoas e aí que me deu mais medo. E fiquei evitando pensar. Tive medo de constatar que minha paixão seria uma pessoa. Acho que seria o pior dos modos, o mais difícil. Aí achei que essa tal paixão se parecia com cisma. Isso de cismar com alguém e ficar criando coisas na sua cabeça que na verdade não são, não existem (como se pudesse ser de outra forma – sempre são coisas da nossa cabeça, é ela que somos). Aí fiquei pensando que talvez não fossem coisas da minha cabeça, e não são. Então estaria irremediavelmente ligada a essa pessoa? Complicado. Tenho tentado entender, não ficando numa de refutar, de negar, de querer ir contra. Inventando outras formas de me haver com isso, mas acho que é a paixão que mais independe da minha vontade e se já me libertei de muitas resistências com relação a ela, vejo que o outro lado (a própria paixão, que nesse caso responde por ela mesma) se mantém muito nublada. Acabo turvada também, tenho dias de chuvas, mas o sol sempre vem e a certeza disso me conforta, acalma. As vezes isso não é suficiente e me descabelo. Aprendo a esperar, e caminho a passos de formiga.

Pensei também na minha família, naquela Barra do Piraí a que eu sempre volto e preciso ter alguma proximidade. Apesar dos pesares, tenho muitas paixões naquele lugar. É minha Terra do nunca, sempre.

E voltei a pesar no movimento de vida em que me encontro. E o que faço? Exatamente correndo atrás das minhas paixões, do que me faz pulsar. E aí, ao contrário da idéia que fiz da paixão do filme, o que sinto é que essas paixões me libertam. Me deixam tão livre, tão solta, tão feliz (tão feliz!). Vou longe. Aliás, vou é nada, nada longe, ao contrário! Fico ali, só ali, nada mais do que ali. E como isso é maravilhoso.

Cores. Definitivamente cores. Sou apaixonada por cores, por luz e sombra, por contornos, formas. Sensações. Cores para mim são sensações. Tão fortes que doem no peito e eu falo chorando porque a boca emudece. Acho que um dia vou conseguir ter acesso a outras cores, porque acho que hão muitas mais. Às vezes quero mesmo conhecê-las, conhecer uma cor nova, ter essa benção, essa maravilha. Acessar uma nova cor, não tom, cor mesmo. Que necessite que a demos um outro nome porque os que temos já nomeiam outras coisas que não ela. Cores.

Descobrindo e me havendo com minhas paixões, é aí que estou. Eu que quase havia me esquecido de onde estava, me achei de novo, por fim. Apaixonada, viva.