segunda-feira, 21 de junho de 2010

Quando Júlio pediu para voltarmos, disse assim:

-Os nomes para mim não importam, importa mais o lugar em que me põem. Você me pede que te chame de Lito, mas Lito só existe enquanto existe Nãnã e Nãnã hoje, não existe mais. Agora, tem Fernanda, tem Nanda que é como me chama minha mãe, tem Dinha que é como me chamam minhas amigas. Nãnã tem, mas no passado. Tem, quando tinha o que a gente era. Só enquanto pensamos nela, é que ela existe.  E isso somente enquanto abstração e não mais em concretude tal que possas abraçá-la para matar a saudade que dela tens. Somos outros agora. Todas as suas palavras, de que anseia por ter contigo aquela menina, te digo que também poderia eu sentir o mesmo por ela, porque ela já não sou eu. Nem é parte de mim enquanto propriedade individual, e há tanto dela em mim quanto em ti. Porque ela era fruto nosso. Ela foi um momento que fui e que ficou lá, junto com o momento. Hoje olhando para ela, a torno diferente. E você também a modifica e não é daquela que sente falta, mas dessa que em mim busca, que em mim cobra correspondência. É por essa que você inventou que choras e não percebe que ela é diferente da outra. Da mesma forma que não percebe que eu  não poderia ser nem aquela que você amou, nem essa que aqui está a me pedir.  Não dá para voltarmos a ser o que um dia fomos e se me pede isso, sinto não poder fazer nada por ti. Se ao invés disso me pedisse para invertarmos outro algo junto, eu poderia, mas voltar já não posso, não podemos. Aquela menina não está mais vivendo e se acaso tivesse me pedido não para tê-la novamente, mas sim para ir junto comigo construindo isso que agora me vai sendo possível, poderia te dar saciedade.  Mas, essa sede que me mostra já não posso dar fim. É que me pede tudo que já não tenho mais e despreza o que poderia conhecer, então, não vejo mais como Nãnã e Lito virarem outra coisa, para além de Fernanda e Júlio, não nesse instante em que só consegue me ver Nãnã e eu te ver Júlio. Em tempo diferentes não dá para se encontrar...

Vi quando ele levou de volta ao bolso uma carta que reconheci como presente meu pelo papel. Já não tinha provas para me dar em prol de uma causa perdida. Tudo aquilo me dóia tanto quanto a ele doía, mas nem disse isso a ele, preferi deixar que ele fosse... Eu entendia o quanto é enorme o sofrimento da saudade de algo que já não há jeito de pôr fim, porque não há como possuir. Não, por impedimento que ainda permita esperaça de um dia acabar, mas pela próprio fato da coisa não haver no mundo.

"O anel que tu me destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou"