quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Foi em meio ao cansaço que um dia,subi até a laje. É clichê. E quando não sou? Não me culpo por tanta obviedade, é uma obviedade sincera, autêntica. Por mais que todo mundo aja dessa mesma forma que eu, e os filme reproduzam tais comportamentos, e também as novelas mais mal escritas a representem e até as músicas de letras mais pobres expressem... faço parte dessa obviedade de forma genuína. Não forço a barra, apenas sou clichê e igual a todo mundo. Compartilho do mesmo modo de sofrer de amor que a maioria. Tendo a me envolver em relações das mais desprezíveis e a penar como um cão abandonado, sem teto e sem rumo. Hoje não dei de cachorro, mas de gato no telhado. Fazia frio e ventava bastante, subi na laje e sentei no murinho de casaco de lã, pantufa, meias e calça de moletom. Queria esvaziar a cabeça. Pedi em silêncio que não aparecesse nenhum vizinho para incomodar e que não dessem falta de mim dentro de casa, ao menos por uns minutos. O meu clichê é prejudicado pelos meus bons hábitos que não me deixam cair na tentação de uma cerveja durante a semana. Também não sou fumante, tentei mas não me apeguei e não sou de forçar. A cena seria completa com um cigarro e uma cerveja. Fico tentando apenas observar a vizinhança, sem pensar em muita coisa.
Desiludida, magoada. Um coração partido. Uma dor que estrangula a garganta e emudece. A amargura dos erros cometidos e dos erros que cometeram comigo me estouraram aftas na boca. A angústia de não ver solução sentida na altura do estômago. O aperto de ter acreditado em mentiras, o arrependimento de ter ido tão longe. E o bem-querer que insiste em envolver tudo isso. As beleza de lembranças puras e da inocência de um amor improvável. A sensação de ser a pessoa mais idiota do mundo e de parecer ter novamente 16 anos de idade. A saudade de amigos que estão longe, a falta de um colo quente, do aconchego de um abraço. E nesse momento, engulo o choro ao perceber a inutilidade de subir até a laje.
Faço a prece dos amantes, peço perdão a Deus por ter negado os sinais e ter ido adiante mesmo que fosse tão nítido o trágico fim da história. Prometo não cometer o mesmo erro. A jura mais batida de todas. Peço em sussurros que passe logo e que o aperto do meu peito se desfaça. Peço para esquecer depressa e que consiga manter o controle diante da situação, sem sucumbir a vontade de recaída. Amém.
Passei a subir até a laje todas as noite e a repetir a prece. Como se do alto, ela pudesse chega aos ouvidos celestes sem demora. Uma amálgama de fé-esperança a quem os amantes se agarram como último reduto, como último recurso e salvação para a ferida aberta de um amor fracassado.