sábado, 16 de maio de 2015

Diante de mim um homem impuro. É todo tomado pelo agora, um homem de pouco passado e nenhum futuro. Dominado pelo instante, que quer apenas saciar vontades e desejos meramente carnais. Desses seus desejos, conheço alguns de perto, outros ouvi dizer. Não me revela nada mais do que isso. A expectativa depositada em mim termina num simples gozo e nunca irá além dele. Nenhuma promessa. Arrisco a ver algum afeto. E talvez o termo "afeto" seja demasiado, mais certo seria dizer "posse": a sede de possuir-me como objeto. Eu, objeto claramente impossível de ser pertencido em exclusividade.
Diante dela um homem casto, fiel e disponível. Um homem disposto a ser companhia na passagem do tempo, na contagem dos anos e das rugas. Alguém que quer ter filhos e pinta as paredes da casa. Alguém para estar junto aos domingos e feriados. Para levar nas festas da família e apresentar aos pais.
Duas faces incomunicáveis de um mesmo homem. Nunca terei a parte dela e vice versa.
E como explicar nela a natureza de esposa e em mim a natureza de amante? Quem nos atribuiu tudo isso? Que olhos nos transformam nisto ou naquilo? O que importa é a satisfação de cada uma das personagens. Um verso de três estrofes, chapéu de três pontas, trevo comum, tríade amorosa. E sabe-se o quão firme é um tripé. Uma força perigosa. Posições difíceis de serem quebradas ou revertidas. União estável.