quinta-feira, 15 de junho de 2017

Inesperadamente, me lembrei da primeira vez que saímos. Chovia muito, eu estava de vestido e lembro de ficar com as pernas respingadas. Lembro de estar acima do peso, lembro de termos tomado um suco que nunca mais vi mistura semelhante. Nem voltando aquele lugar. Acho que a criatividade do dono não vendeu e retiraram do cardápio. Mas, era bom, o tal suco. Pedimos sabores diferentes e eu experimentei o seu. Ou não, talvez isso não tenha acontecido e seja só minha memória criando coisas. Sei que conversamos bastante, por horas. Você estava com o rosto tomado por espinhas. Você me levou até o ponto de ônibus e eu esperei por uma aproximação maior até o último minuto. Nada aconteceu. Cheguei em casa num misto de insegurança e certa esperança. Por um lado, acreditei que havia timidez de sua parte; por outro acreditei que talvez eu não fosse demasiado atraente. A julgar pelo todo, sabia que haveria outro encontro e que talvez houvesse ali algo a que me escorar, por um tempo. Desde do primeiro dia, o que senti não passou de sentimentos mornos. Não sei porque lembrei disso hoje. Acho que nunca mais havia voltado aquele dia, pensado sobre ele. Em quais pessoas estavam ali, cruzando as vidas. Sem saudade ou julgamento, apenas remonto aquele dia, despretensiosamente. Assim, só por lembrar.

sábado, 10 de junho de 2017

Nem tão mais a contragosto, sou obrigada a concordar com seu ponto de vista. Mesmo com todo amor do mundo, não duraríamos uma semana juntos. Verdade. Há muita complexidade em você onde para mim é apenas simples. E nisso, o vice-versa é uma certeza. Valores que não se cruzam, preocupações que não conjugam, angustias que não comungam entre si. Díspares em pensamento e percepção de vida. Questiono se nós nos compensaríamos. Se acaso, nos seria possível uma relação de complementariedade, onde um preencheria o exato ponto em que o outro falhasse. Já que um é bom onde o outro se amedronta e se desanda, há o viés de que um ajudaria o outro nas mazelas e dificuldades. Bom, é sempre possível, claro. Contudo, nem sempre viável, ou desejado, ou almejado. Há sentimentos em mim por você que ainda carecem sublimação. Há doses de apego e consequente ciúme, que só fazem envenenar-me. Hoje entendo que meu caminho há sempre de ser o oposto ao sofrimento, e eu preciso mirar aquilo que me afasta da dor. Pensamento este que busco impor a toda minha vida e a cada relação que se faz em meu caminho e em mim. A eterna busca de ser alguém melhor; a eterna busca pelo sentido das coisas, pela transcendência. Busca ativa, consciente, persistente. Sem pressa ou cobrança, mas eterna: que nunca cessa, que nunca estagna. Propósitos que nem sequer acredito que você entenda, ou imagine existir em mim. Busco pela  fórmula de te amar como você é, mais ainda sigo sofrendo por te querer por perto. Estou eu na fase de aceitar que você tem vida própria, escolha própria, vontade própria. E aceitar seu jeito de querer a todas, sem na verdade querer nenhuma. Minhas peculiaridades te surpreendem. Algumas te encabulam, umas te deixam inseguro, outras desconfiado e ainda há aquelas que te despertam interesse, desejo, querer. Sei que não as vê em mais ninguém. Não estão entre as coisas pelas quais tem afinidade ou está acostumado. E bem sei que nem sempre sabe ou se interessa, por lidar. Não as quer tão perto como é da minha vontade. Como foi da minha vontade. E já não é mais, e cada dia é um cadinho menos. E entendo que o caminho a seguir é o do constante desapego, do respeito a você enquanto ser humano livre e dono de si. Seguir cultivando o carinho e aniquilando a necessidade. Esforçando-me para ser feliz quando você é feliz, em suas escolhas, e naquilo que opta por vivenciar. Amar a você e suas experiências e respeitar tudo que vem de você de peito aberto. Sem que me sinta atacada, reprimida, intimidada, excluída, traída, humilhada. Sempre no caminho contrário a tudo que torna meu espírito pobre, afim de atingir mais e mais minha própria libertação.