terça-feira, 30 de setembro de 2008

"... uma idéia precisa suportar o peso da experiência concreta, senão se torna mera abstração."

Richard Sennett

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Flôr de Lis

Valei-me, Deus!
É o fim do nosso amor
Perdoa, por favor
Eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez
Tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei?
Eu só sei que amei,
Que amei, que amei, que amei

Será talvez
Que minha ilusão
Foi dar meu coração
Com toda força
Pra essa moça
Me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver como raiz
De uma flor de lis

E foi assim que eu vi
Nosso amor na poeira,
Poeira
Morto na beleza fria de Maria

E o meu jardim da vida
Ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria
Nem margarida nasceu.

E o meu jardim da vida
Ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria
Nem margarida nasceu.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O dia em que também fui outro

Hoje acordei e não reconheci as ruas, as pessoas, os rostos, tudo estava mudado. Senti que não estava em niterói, não sei onde estava, não sei se poderia estar. O tempo era estranho, era ruim, chuvoso. Meu corpo estava enjoado, minha mente confusa, a mil e cansada. Nenhum lugar parecido, nenhuma pessoa era a mesma. Nenhum resquício ou rastro do que eu deixei quando sai. Parece que fiquei por anos fora. O caminho estava mais verde musgo. O silêncio se quebrava pelas lágrimas, não sei se de saudade, não sei se de medo, não sei se de dor, desesperança. O que terá acontecido? Quem estava me apoiando me deu as costas, quem estava distante veio para perto. Senti vontade de me jogar no estranho a permanecer no pequeno conhecido que ainda se disfarçava. Na verdade me roubaram as lembranças, me arrancaram o hábito de roçar a mão entre os cabelos ondulados. Mudei de apartamento de fim de semana, vou voltar a fikar fora enquanto estiver aqui. Fora de onde? Falo como se estivesse em casa, como se isso fosse possível. Já adandonei esse sonho, só quero poder dormir minhas oito horas por noite e poder ir malhar. Onde é que me situo? Os banhos tem sido num chuveiro da academia que era o de sempre, mas agora esta mais vazio, venta mais pela fresta da porta do box, a aguá cai mais curva. Meus sapatos estão guardados. Veio a mágoa, veio risos, o bom humor apesar de tanto tudo, veio consolo, veio insatisfação, sentimento de injustiça. O mundo haverá mudado ou fui eu quem foi atingida por um cometa? Quem me ocupa agora? Quem pensa por mim? Tive que abandonar os meus pertences mais íntimos, mais imprescindíveis, os pensamentos mais fiéis e os comportamentos mais próprios. Talvez deveria ter medo que ninguém mais me reconheça na rua, mas não mudei, fui mudada, é fui outro, me deram outro, me foram outro. E ah, vou me mudar de novo, aqui há varanda, mas não posso sair.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Porque gostamos das coisas como elas são

Nos amamos. Nos amamos porque somos por assim dizer, farinha do mesmo saco. Somos tortos, somos sujos. Somos da vida e nos esquecemos ou só disfarçamos. Gostamos é das coisas desarrumadas, jogadas, da bagunça de um quarto com roupas espalhadas pelo chão, pelas coisas, pelos milhões de cabides que tudo vira para comprotar nossos papeis, nossa desordem.
Gostamos de pijama. Gostamos de pijama de manha, a tarde e a noite, é nós gostamos mesmo de pijama. Gostamos é de beijo, beijo molhado, mordido, com pressa.
Gostamos de toque, do toque apertado, das mãos entrelaçadas, do suor, do arranhão. Dos cabelos meus que ficam pelo chão, dos que caem, dos que você arranca. Gostamos de pescoço, de costas, de pele, do cheiro da pele. Da pele imunda, da pele imunda. Que graça tem a pele limpa, a pele não vivida, não experimentada? Bom é a pele que fala, grita e sussura, escorre, a pele que aquece. Gostamos da flôr da pele.
Acho também os narizes importantes. Somos assim, frutos do mesmo pé, nos damos fácil, nos damos simples, nos damos a quem quizer. Gostamos de nos dar.
Falamos pouco, talvez não mais que sons de um bebê. Falar se tornou dispensável, como se tivéssemos nascidos mudos e os outros sentidos tivessem que ter se apurado ao máximo para dar conta desse desfalque que a falta da fala teria ocasionado. Sentimos mutio, sentimos tanto. Sentimos falta, sentimos paz.

domingo, 7 de setembro de 2008

Não haveria problema em estar sozinho, se isso fosse possível. O perigo está nas pessoas e não nos lugares. Por sorte ou azar, sempre estamos em presença de nós mesmos. Se meus pensamentos calassem por uma só vez, por um só instante e eu pudesse esvaziar-me de tudo... como eu queria esvaziar-me de toda essa turbulência que me invade, me perturba. Há muito ela não cessa, ao contrário, alcança picos de uma quase loucura.
"Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos. Mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, pressão de família? O legal é alguém que está com você e por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?Gostar dói. Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo. E nem sempre as coisas saem como você quer. A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. E nem todo sexo bom é para namorar. Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar."

Thayla Adir

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

"(...) aumentam a preoculpação e o investimento com as questões relativas ao 'interior' (...) as categorias políticas são transformadas em categorias psicológicas, o importante não é o que se faz, mas o que se sente, ou seja, há um esvaziamento político, há uma psicologização do cotidiano e da vida social."

Coimbra, C.M.B.