sábado, 27 de julho de 2013

Te procurei a noite para te dar a mão. Mais uma vez, te direi das cores que vi no céu. Viajei até o outro lado do rio de canoa com os amigos de Amanda. Tenho orgulho. Sinto um aperto de saudade cada vez que ela me olha nos olhos com a sinceridade que só  você era capaz de me fazer sentir. Os olhos muito pretinhos. Não sei se é isso, se é o preto. Nunca pude entender e nem descrever com precisão o que é que tinham seus olhos. Você tinha olhos que embaçam. Olhos enuveados, eu diria. É essa a sensação. Talvez seja. Sempre ouve algo na frente do seu olhar. Era como se nunca tivesse visto seu olho de verdade, sempre escondido por detrás. Talvez a sinceridade fosse, então, da nuvem. Olhos nublados, sempre nublados. Mas que nunca choviam. Esses olhos teus. Nunca choviam. Como os dela não chovem. Não há porosidade nessa nuvem. Ela só guarda, mas não escorre. Guarda toda a água com ela, e não nouardou? Te amo tanto. Quando te vi de olhos fechados, dentro do caixão, senti tanta falta. Falta dos seus olhos, falta da nuvem. Queria ter visto seus olhos por uma última vez. Só fui encontrar semelhante algodão nos olhos de nossa filha. Ela, que nunca pode guardar uma lembrança sua em sua pequena memória de menina, mas guardou tantas semelhanças com você que parece até invenção de minha cabeça. E não é. Claro que ninguém vai perceber o que eu percebo. Ninguém te conhecia como eu. Ninguém a conhece como eu. Um dia não terei mais esse conhecimento, sei que os filhos crescem e se vão. E se tornam distantes e se aproximam de outras pessoas e a gente acaba perdendo o jeito sobre eles. Tem dias que eu a aperto contra o peito e sinto o seu abraço. Ela sorri. Ela sabe. De alguma forma, ela sabe que o verdadeiro motivo do meu abraço nesses dias é matar a saudade que sinto de você. E ela também sabe o quanto tem de ti. Esses dias me disseram que deveria me preocupar com a amizade que ela tem com a Luciana. Que é preocupante que duas meninas andem tão juntas e que tal atitude não pode ser boa para o caráter. Sei que você se preocuparia tão pouco quanto eu. Elas formam um belo casal, e se entendem tão bem, e vivem sorrindo e descobrindo a vida juntas. Que mal pode ter? Ela saiu mesmo à gente, ao nosso amor. Pura, de coração inflado, sorriso largo, olhos de nuvem. De nuvem no céu, céu de estrelas. Olhos de luar, olhos de lua cheia, olhos nublados. Quantos olhos tem nossa filha, quantos céus traz na alma. Ela é linda. "Digna de ser amada", como quisemos nós. Um sonho nosso, meu e seu. Um sonho vivo que corre pelo mato descalça e toma banha de rio e banho de sol. Sempre magrela, sempre douradinha, sempre com a Luciana. Quem dera ter te conhecido assim tão jovem como ela conheceu Luciana. Teríamos conseguido aproveitar mais. Mas, sei que ainda temos todo tempo desse mundo e de todos os outros. E que esperas tanto por esse dia quanto eu.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Hoje eu acordei de sobressalto, assutada com o meu próprio nome. M-A-R-A. Nome estranho. Palavra mais sem pé nem cabeça. M-A-R-A. Tinha a Mara Maravilha, mas assim fazia sentido. O "Maravilha" tornava a "Mara" alguma coisa. Uma coisa maravilhosa aliás. Mas eu era Mara, só Mara. Se ao menos eu fosse Mara Leite, já seria menos pior. Tipo marca de leite, o leite Mara. Seria melhor. Mas sou Mara Souza. Sobrenome só da mãe. Se tivesse  "i" faria sentido, e eu me chamaria Maria, com "i". Porque Maria, foi a mãe de Jesus e só por isso teria sentido. "Maria" por sí só não tem sentido. Se a mãe de Jesus fosse "Clara" ao invés de "Maria", "Maria" não teria sentido algum e seria igual a "Mara". Nomes próprios não tem sentido nenhum, a exceção dos santificados e dos que homenageiam celebridades e pessoas da família. Por exemplo, estudei com uma menina chamada Madonna. Não por causa da cantora, mas por causa de um quadro. O nome dela fazia sentido porque representava alguma coisa. Representava uma obra arte. Bonito. Minha tia chama Lucíola por causa do romance. Minha prima chama Sandra porque assim chamava sua avó. Por isso a Sandra prima tem coerência, mas já a Sandra sua avó não. Esta pobre, era Sandra porque era Sandra. E só. Que nem eu, pobre de mim também. Que não sei porque raios me chamo Mara. Nome infeliz que nada representa. Minha mãe, que Deus a tenha, dizia que quem escolheu meu nome foi meu pai. Pai esse que eu nunca conheci. E a investigação teve que ficar por aí mesmo. Enigma eterno. Nunca pude saber porque assim me chamo. Karma. Injustiça. Caso arquivado. Mas e eu? Algo tão colado em mim, pregado na minha carne, na minha alma, no meu tudo. Tudo meu é de "Mara", e minha mãe espalhava etiquetas com meu nome em tudo que levava para a escola. E eu nem sei nada sobre isso. E nem pediram minha opinião. Madonna diz que o nome dela foi um lindo presente. Boba Madonna. Tudo bem, estou com inveja. Não me recriminem. Estou chateada. Talvez mais. E nem me venham falar em dicionários de nomes. Eles igualam todo mundo. Deve ter Madonna neles e nem por isso ele representa minha amiga. É falso. É fingimento, puro fingimento para que a gente se sinta bem e confortável. Querem nos silenciar. Querem nos calar e calar nossa vontade por respostas. Nos querem dóceis. Ovelhinhas. Preciso mencionar que também tem sentido os nomes que representam flores. Margarida, Rosa, Petúnia. Preferia chamar margarida, mas ninguém me perguntou. Foram me enfiando a força numa roupa que eu não escolhi e que não me representa. "Mara". "Mara" não me representa porque "Mara" não representa ninguém. E nem nada. "Mara". Seco. Um cuspe seco.