sábado, 7 de março de 2015

A solidão de ser só dois

Um hiato a cada relacionar-se. Em cada relação, um espaço impreenchivel entre duas pessoas. Um vazio, silencioso: a solidão lacunar. Como estar plenamente satisfeito em uma relação? Quem seria o herói capaz do superpoder de desdobra-se em tantos papéis e maneiras a ponto de dar a um outro a saciedade plena, a satisfação completa? Onde um não está, outro entra. E o que um não ponde dar, outro daria. O insustentável para um, não há de ser problema para algum outro. Como querer que apenas um te supra e te baste? Se por acaso, nem você o é capaz. Se por acaso, nem você é capaz de tal proeza na vida de alguem. Que injustiça cobrar assim das pessoas, cobrar o inatingível, cobrar o que ninguém pode dar ou ser. E, por isso, a infelicidade é certa. Porque a busca pelo preenchimento é a busca por um outro que preencha (plenamente). Uma busca incansável. E, assim, haverão dois caminhos: o relacionar-se compulsivo, dos frustrados esperançosos que nunca desistem da busca e que acreditam poder esgotar as suas demandas  e carências na relação com uma única figura, e aqueles que se frustram e cansam de buscar tal diamante cor-de-rosa, contentando-se com algo menor por desiludir-se na procura mal sucedida. De qualquer forma, a grama do vizinho sempre parecerá mais verde. Seja porque ela lhe parece interessante e torna-se, então, nova possibilidade de finalmente encontrar a saciedade, seja porque lhe pareça que há algo ali que você não tem, não conseguiu ter e cansou de tentar conseguir. Relações doentias, imaturas e infelizes. Umas acabam, outras são empurradas a longo de anos mesmo tendo acabado à muito tempo, mas, todas condenadas ao fracasso. Umas tem um fracasso bem sucedido, e a convivência é menos penosa e tediosa. E essas se tornam o melhor que se pode fazer e alcançar. A monotonia de uma amizade, a segurança de um amor que resistiu a todos hiatos, a vida construída a dois, uma vida estruturada num outro, cujo pilar está longe de ser você mesmo e seus sonhos. O ideal da maioria. A mediocridade maquiada, em dia de festa.