segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

       Uma vez, eu tive um amigo. Uma vez e não mais que uma vez. E ele me levava para ver as estrelas: o céu mais bonito que eu já vi na vida. Eu ria dele e ele ria de mim, e as vezes era só mesmo rindo que a gente se entendia. Na verdade, a gente nem falava muito. A gente passava longos tempos em profundo silêncio. Mas é porque não precisava, não precisava falar nada. Porque bastava ficar perto, ficar perto já era o suficiente, já era tudo o que a gente precisava: toda companhia. Toda natureza, e toda a companhia. Cada um na sua, pensando na própria vida, mas junto, a dividir o momento.
       Uma vez, eu tive um amigo. Eu tive um amigo uma vez, uma vez. Mas, assim como tudo na vida é breve e tem determinado tempo para existir, essa amizade também se foi. E o tempo a levou, assim como leva a todas as coias, pra um lugar que eu não sei. Talvez o passado. Talvez seja lá onde more as coisas que o tempo leva: o passado, a lembrança, a saudade. Porque o que não é a vida, senão um eterno aprendizado de dizer adeus? Que é a vida senão uma eterna despedida, um eterno despedir-se. Um eterno ir e vir, à espera do fim maior.
        Eu queria ter o poder de negociar com o tempo para que ele me deixasse ficar um pouco mais com algumas pessoas. Eu queria chegar ao pé do ouvido do tempo e pedir-lhe encarecidamente bem baixinho que ele se prolongasse um pouco mais, só um pouco mais.As vezes E me deixasse ficar um pouco mais com as pessoas que eu amo. E que esquecesse um pouco de si mesmo, se prolongasse e postergar-se o adeus. Para que eu pudesse aproveitar um pouco mais. E ficar um pouco mais. Só um pouco mais.
Mas o tempo, parece mesmo ser irredutível, inegociável. Impossível de ser dobrado.