Eu trago. Não do verbo trazer, mas do verbo tragar. Eu te trago. Te sugo.
Me sinto como mar, a lamber suas pernas e te puxar para mais perto. Sempre mais para perto.Te encharco. Se você deixa, te invado ao ponto de te privar do ar. Estrangulo. É sem propósito, é sem querer. É porque sou líquida. Sem forma. Escorrego. E meus olhos escorrem. E vou entranhando devagar.
Não é por vontade minha. Por isso temo pela vida dos que me vem, porque há sempre risco de morte. E risco de morrer. As vezes recuo, e recuo.
Ninguém consegue ver muito bem o que guardo no fundo. A maioria se satisfaz com a minha superfície. E gostam do meu toque. E de como os coloco para ninar. E da sensação de estar dentro. Se banham quando querem, o quanto querem e se vão. Simplesmente. Alguns me tem mais amor. Outros, mais admiração. Tem gente que tem medo. Tenho força, mas não sei usar. As vezes revolto, às vezes tranquilo. E mudo assim em pouco tempo. Sou um pela manhã, outro a tarde e mais um outro a noite.
E a ressaca é avalanche. Ninguém vem até mim nos dias de ressaca. Solidão salgada.
Sou muito, muito volumosa. Caudalosa porque me bifurco. E me perco tanto e tantas vezes. E acabo sempre perdendo um tanto de água por aí. Qualquer dia eu seco. Primeiro rio extinto.
E, por fim, cuspo todos para fora. Nada é capaz de permanecer em meio a tantas ondulações. E no final, só me resta a mim. Mar adentro.
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