quarta-feira, 24 de julho de 2013

Hoje eu acordei de sobressalto, assutada com o meu próprio nome. M-A-R-A. Nome estranho. Palavra mais sem pé nem cabeça. M-A-R-A. Tinha a Mara Maravilha, mas assim fazia sentido. O "Maravilha" tornava a "Mara" alguma coisa. Uma coisa maravilhosa aliás. Mas eu era Mara, só Mara. Se ao menos eu fosse Mara Leite, já seria menos pior. Tipo marca de leite, o leite Mara. Seria melhor. Mas sou Mara Souza. Sobrenome só da mãe. Se tivesse  "i" faria sentido, e eu me chamaria Maria, com "i". Porque Maria, foi a mãe de Jesus e só por isso teria sentido. "Maria" por sí só não tem sentido. Se a mãe de Jesus fosse "Clara" ao invés de "Maria", "Maria" não teria sentido algum e seria igual a "Mara". Nomes próprios não tem sentido nenhum, a exceção dos santificados e dos que homenageiam celebridades e pessoas da família. Por exemplo, estudei com uma menina chamada Madonna. Não por causa da cantora, mas por causa de um quadro. O nome dela fazia sentido porque representava alguma coisa. Representava uma obra arte. Bonito. Minha tia chama Lucíola por causa do romance. Minha prima chama Sandra porque assim chamava sua avó. Por isso a Sandra prima tem coerência, mas já a Sandra sua avó não. Esta pobre, era Sandra porque era Sandra. E só. Que nem eu, pobre de mim também. Que não sei porque raios me chamo Mara. Nome infeliz que nada representa. Minha mãe, que Deus a tenha, dizia que quem escolheu meu nome foi meu pai. Pai esse que eu nunca conheci. E a investigação teve que ficar por aí mesmo. Enigma eterno. Nunca pude saber porque assim me chamo. Karma. Injustiça. Caso arquivado. Mas e eu? Algo tão colado em mim, pregado na minha carne, na minha alma, no meu tudo. Tudo meu é de "Mara", e minha mãe espalhava etiquetas com meu nome em tudo que levava para a escola. E eu nem sei nada sobre isso. E nem pediram minha opinião. Madonna diz que o nome dela foi um lindo presente. Boba Madonna. Tudo bem, estou com inveja. Não me recriminem. Estou chateada. Talvez mais. E nem me venham falar em dicionários de nomes. Eles igualam todo mundo. Deve ter Madonna neles e nem por isso ele representa minha amiga. É falso. É fingimento, puro fingimento para que a gente se sinta bem e confortável. Querem nos silenciar. Querem nos calar e calar nossa vontade por respostas. Nos querem dóceis. Ovelhinhas. Preciso mencionar que também tem sentido os nomes que representam flores. Margarida, Rosa, Petúnia. Preferia chamar margarida, mas ninguém me perguntou. Foram me enfiando a força numa roupa que eu não escolhi e que não me representa. "Mara". "Mara" não me representa porque "Mara" não representa ninguém. E nem nada. "Mara". Seco. Um cuspe seco.

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