Quantos anos se passaram sem que eu visse seu rosto? Perdi-me na conta, não sei dizer. O espanto em te ver foi todo por isso. Não me lembrava mais de você. Como se você tivesse deixado de existir, simplesmente. Sua fisionomia fez meu cérebro fazer uma viagem por ele mesmo, atravessando memórias e mais memórias, lembranças intermináveis, em questão de segundos, todas invadindo minha consciência de uma só vez. Arregalei os olhos, tonta. Você passou por mim, com o velho olhar perdido, inchado, solitário. A dor latente de sempre. A persistência na dor latente de sempre. E nem me viu. Passou por mim tão dentro de si mesma, que nem me viu. Não participou do nosso encontro.
Das mais inteligentes da sala, dona das maiores notas e expectativas de sucesso. Do grupinho das meninas mais populares, das que mais chamavam atenção. Dona de uma postura ímpar, reservada. Tão dona de si ao falar, ao se impor. Frágil, porém muito frágil. Nunca soube lidar com o amor. Eterna atormentada pelas frustrações amorosas, sempre vivendo no passado, na amargura dos amores que ficaram pelo caminho. Parece que nesse caminho andou sozinha, sem que ninguém lhe alcançasse a mão para ajudá-la a atravessar. Nessa perdeu-se. E ainda parece estar perdida nesse labirinto das paixões sem tamanho, dos beijos negados, dos braços que não abraçam, da falta de reciprocidade.
Quanto tempo, menina. Eu que achava que você não existia mais. Desejaria a você um "bom dia", se tivesse conseguido me ver, na tentativa de mudar seu humor ou apenas distraí-la brevemente. Diria: "seja bem-vinda de volta" a minha vida, ao meu convívio... vamos conversar, marcar uma cerveja talvez. Fale-me mais dessa amargura, ou não... fale-me do que preferir. Pegue na minha mão, use-a. Não tenho medo do caminho. Vou com você. Talvez seja ingenuidade minha, talvez possa não ser. Talvez tenha fim, esse caminho. Talvez tenham flores e você, por distração, as tenha visto tanto quanto viu a mim.
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