"As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho" - Mário Quintana
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Até agora não falei do que vou falar. Não sei o que será de mim depois disso. As consequências poderão ser irreversíveis. A verdade é que fiquei muda, completamente. Apertaste tanto minha garganta que perdi a voz por um tempo. Quando senti que a tinha recuperado, percebi que me tinhas costurado a boca. Deixei. Tudo que fizeste comigo foi com meu puro consentimento. Deixei. Eu que tendo a gostar de sentir dor, pelo costume dos anos. Pois agora, não quero mais a boca travada. Arranco tuas amarras nem que me custe o lábio. E estouro os pontos. Pois bem. Chegou a hora. É preciso falar do que mais se quer esquecer. Que outra forma conheço eu de libertação senão escrever? As palavras são meus meios de ser. Sou em versos. Por muito tempo me roubaste todas elas e só por maldade, porque não te vi em nenhum momento as usando. Nem me chegou a notícia de que te viram com elas por aí. As tiraste de mim por saber que são elas, minha única companhia. Sabes que sem elas sou mais só do que é possível ser. Seu maior crime. Sem palavras não me organizo. Toda minha vida precisa ser enfileirada, palavra após palavra para que eu a veja e reconheça. Para que eu saiba. Por isso, até hoje não sei. Nada consegui dizer sobre o assunto. A cada narração do acontecido, perdia uma palavra, e de tanto tentar contar, fiquei sem nenhuma. Minha forte vontade de lembrar, apagou-me toda memória. Não me recordo bem dos eventos. Lapso de memória: eis outro dano que me causaste. Custa-me reverter o quadro. Custa-me recompor a saúde. Me deste um tiro no pé e me deixaste sangrando até morrer. Depois me juraste que eras homem bom e disseste que a culpa era minha. Disseste por aí que eu tinha perdido juízo e que andava a inventar história sobre você. Culpou-me de ser impura. Culpou-me por amar. Culpou-me por não saber ser sua. Quiz que eu ficasse, fez-me juras eternas. Nunca saberei se foram verdadeiras. Eu vim, não paguei para ver. Quando achei que agarrarias minha saia, na última tentativa de me impedir, inesperadamente me deixaste vir. No calor do corpo de quem se liberta e de quem ainda treme de medo pelo perigo corrido, não pude perceber os danos nas minhas cordas vocais, nem a boca pregada. Corri para onde a vida me arrastasse depressa, me enfiei na multidão em busca de ser só mais uma. Mesmo correndo o risco de nunca mais conseguir sair.
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