"As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho" - Mário Quintana
domingo, 12 de maio de 2013
A frieza do vidro me constrange. Tão liso, tão gelado. E quando parte ainda corta. Tão agressivo. Acredito que comparar uma pessoal à um vidro seria uma tremenda ofensa. O que pode ser mais indiferente? Não conheço. O vidro nada te oferece, nada te dá sobre ele mesmo, nem uma pista. É pior que os espelhos, que também não demonstram nada deles mesmos, mas lhe oferecem ao menos o mesmo que você dá a eles: você mesmo. O vidro nem isso. Ele é vazio. Ele não tem nada, não é nada. Nada pode te dar. Você mal o vê. O vidro é um cabeça dura, só se pode alterar sua forma por meio temperaturas tão altas que não se pode resistir. Nada resistiria. Pois ele resiste e cede, mas logo esfria e retoma sua sua postura ausente. É mesmo um duro. Nada nosso consegue atingir o vidro: tocamos e não ficam rastros, molhamos e logo escorre, tudo que o suje é facilmente limpado. O vidro é imaculável, é um imaculado. Só há um jeito de constrangê-lo: espatifando-o. Aí ele se torna um impossível, e meses depois ainda se acha cacos. Ele morre com o segredo. Espatifa e morre, mas nada nos diz sobre si. Nunca entenderemos.
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