sábado, 20 de fevereiro de 2010

E ninguém liga se no meio da noite eles trocam de perfume e ela vai embora com o cheiro dele e ele vai embora com o cheiro dela. A brincadeira de vice-versa é das mais gostosas. É como se levássemos um pedacinho alheio para casa. E quem pode dizer o contrário? O cheiro é das coisas mais fiéis que alguém pode ter, mais intrínsecas, mais pessoais, mais características. É sim, uma parte do outro (e tal como outra qualquer, volátil).  E o olfato é o órgào mais atento, mais sensível as lembranças. Cheiro disperta. Cheiro não se confunde. Por mais que seja a originalidade vinda de um vidro comercial, essa logo se dissolve, se perde. No fim, no fim da noite, o que fica é sempre o cheiro honesto, o cheiro de verdade, da verdade. O cheiro enganador fica pelos lençois. Na pele, fica mesmo é o cheiro da carne, o cheiro do corpo, o doce cheiro das travessuras a dois. E é esse cheiro que levamos do outro quando nos despedimos. É esse cheiro que sentimos pena de perder ao tomar banho. Mas não entenda isso como um roubo. A maravilha dos odores é exatamente a perpetuação, sua capacidade de multiplicar-se. O cheiro próprio se doa, mas sem nunca se perder. É o milagre compartilhado.

5 comentários:

Mila Silva. disse...

muito bom o texto, adorei seu blog.
estou te seguindo, me dá essa força?
beijos.

Dani Pedroza disse...

Não é a primeira vez que venho aqui. Sempre através do blog do meu irmão. Gosto do "Reticências". Aliás, gosto do que elas significam. Seus textos são densos, fortes, exalam sinceridade, mesmo que não necessariamente tratem de verdades. Talvez elas nem existam. Enfim, essa é uma longa história... rs.

André disse...

Bom texto. só nao gostei das cores, me confundem um pouco e cansam tambem. Fica a dica, mais que crítica.

Anônimo disse...

Muito bom o texto.Bjs

Unknown disse...

Pois é Lívia, o faro que desperta e o cheiro que alucina nos torna mais humanos e mais fantásticos quando eles lembram daquilo que nos fez únicos no mundo. O cheiro que lembra tudo é o complemento místico de nosso dervixe!!!! Que belo texto você escreveu.