domingo, 28 de fevereiro de 2010

Marta não falava a verdade porque era boazinha. Nem por apreço a moral e aos bons costumes. É só porque falar a verdade dava menos trabalho. Mentir requer muita criatividade e disso, ela tinha pouco. Inventar histórias nunca foi seu forte. Não que fosse de todo incapacitada para inventar, mas era tão mais fácil dizer tudo como tinha sido. Sem falar que evitaria problemas futuros. Ela nunca seria pega, não tinha trapaceado. Por outro lado, uma mentirinha ou outra poderia ter lhe salvado centenas de vezes e evitado muitos problemas futuros. Nem sempre a verdade é bemvinda. Nem sempre a realidade dos fatos faz bem. Marta considerava isso um efeito colateral, quanto a ele não havia o que fazer, eram as consequências irremediáveis. Já os frutos da mentira, eram todos crias dela (de Marta e sua invenção). Marta sabia que falando a verdade ou a mentira, haveriam mal intendidos, corria-se riscos. Uma verdade pode trazer tanta destruição quanto a falta dela. Então, melhor falar tudo tim-rim-por-tim; além de menos trabalhoso, ainda se sai bem falado. Se algo desse errado porque Marta omitiu e inventou detalhes ou todo o tudo, a culpa seria, logicamente, dela. Ela teria que carregar esse peso para toda a vida. Já se, tudo desandasse por causa do que realmente aconteceu, a culpa não era dela, era do acontecido, das circunstâncias, do acaso (para os descrentes) ou do destino (para os que tem fé). E ela poderia sofrer, mas não poderia ser menos julgada do que qualquer um dos demais envolvidos nas circunstâncias. O que era, definitivamente um consolo, um alívio. Quem pode contra a própria consciência? É por isso que Marta achava que é preciso muito peito para mentir. Ao contrário do que a maioria pensa, Marta achava que é preciso muita coragem para dizer uma mentira e correr o risco de ser atormentado por ela até o leito de morte. Por isso, ela se colocava na ala dos covardes, dos mais racionais e menos inventivos. E assim, Marta não podia deixar de sentir remorso e de se criticar por ser tão apática. E, no fim das contas, apesar de tudo, acabou muitas vezes se sentindo culpada. Culpada sim, por não ter mentido, por não ter tido a virtude da mentira que teria sido tão mais confortável, tão mais certa. Quantas coisas Marta tinha destruído e visto cair por causa de sua sinceridade. Quanta dor ela sentia escondida, buscando sempre sua lógica de pensamento para lhe dar um alento, para aliviar a culpa. Por mais que a lógica lhe dissesse que ela estava certa em cumprir com a verdade, ela se sentia medíocre. Quanta coisa uma mentira pode evitar. Porque jogar tudo por terra, se uma mentira mantém toda ordem? Porque não aceitar a mentira se a realidade é tão maléfica? Se tantas verdades são temporárias, qual a diferença? Amanhã poderão ser mentiras; e as coisas mais inacreditáveis, outrora, não poderão virar as mais certas... Qual seria pior, o que seria mais digno de covardia ou heroísmo? Quem pode julgar? A consciência é juíz justo? A consciência é juíz justo. Até que se prove o contrário.

2 comentários:

LACM disse...

Gostei muitoo viu... Parabéns vc escreve muitoo...

Larissa Alves disse...

adorei,muito bom mesmo !!
:*