domingo, 3 de agosto de 2008

Incompletude

Talvez meu maior medo seja conseguir o que quero... instantâneamente terei que parar de desejar o que consegui. E não conheço coisa melhor, melhor sensação do que a de estar paquerando, fazendo charme, enrolando, seduzindo. Derrepente, você consegue, conquista a coisa que namorava distante com os olhos famintos, insaciáveis; agora já são mornos e tenros. Nada contra, mas calor é melhor, paixão é melhor, desejo é melhor... melhor que satisfação. Desejo move a vida, satisfação estagna. A corrida pelo que se quer tem mais tempero do que a chegada. É por isso, creio eu, que muitos ficam dando voltas para não chegar nunca. É tão gostoso estar num projeto, no meio do caminho. Ali podemos esperar tudo, sonhar com tudo, idealizar de toda e qualquer forma o que está por vir, ainda é possível fazer isso. E, quanto mais nos aproximamos da conquista, mas moldada ela está e menos possibilidades nos são reais, já está tudo direcionado, culminando num ponto certeiro, sem mais chances.
Sem falar no terror que é conseguir o que queremos, na perda de referência, na desorientação que gera. Não sabemos mais o que queremos, o que mais tem por ai agora que nos faça correr atrás. É preciso sempre ficar no desejo, sempre ter algo incompleto, em vias de desenvolvimento. Conseguir é algo muito intrigante. Que fazer agora com isso? O lado azedo do sabor da vitória pode acabar estragando todo o seu gosto, e talvez o que parecia tão brilhante de longe, na realidade, descobriu-se ser fosco ao se aproximar. E todo o brilho se perde.
Como canta Leoni:
"Só enxergo o que não posso ter, mas se qualquer dia eu conseguir, vai perder a cor, desaparecer, como tudo que me fez feliz..."

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