Hoje me aconteceu algo que me fez querer contar. Como não sabia para quem, decido não contar para ninguém. Estava vindo da análise (da minha análise), pela rua que passo pelo menos duas vezes por dia. Já morei nessa rua por uns oito meses e há quase dois anos moro numa rua que a cruza. Gosto muito dessa rua e nem sei porquê, ela é não tem nada demais, talvez por não ser muito movimentada e já ser familiar, já fazer parte do meu cotidiano. Além de tudo eu a acho bonita, talvez pela simplicidade. Muita gente diz que é perigosa, mas nunca tinha me acontecido nada nela até hoje. Fui assaltada. Mas o assaltante não levou nada. Pode parecer cômico. Um moleque que devia ser mais novo que eu me encurralou na calçada: de um lado ele de bicicleta e do outro um caminhão, que não me deixava sair da calçada para a rua. "Perdeu, perdeu". Eu como sempre, estava distraída e quando vi aquele menino se aproximando de bicicleta, vindo na minha direção (na verdade, me atropelando), achei que ele ia falar alguma gracinha e passar. Que nada. "Perdeu, perdeu" . Eu tentei dar a volta pela frente do caminhão, mas ele segurou minha mão. "E se tentar correr, vai tomar", nessa hora já tinha soltado minha mão e colocou a mão na cintura como que me dizendo que tinha uma arma na bermuda. Taí, pensei, mentira. Primeiro blefe. "Me passa o cordão". Eu franzi a testa e sacudindo a cabeça disse com má vontade, como que está de saco cheio, aborrecida, entediada:
- Isso aqui nem é ouro, isso aqui é bijuteria meu filho.
-Né de ouro não?
- Isso aqui é ouro?
Falei tirando sarro mesmo, tipo "fala sério!". Segundo blefe: o cordão não era de ouro, mas um dos três pingentes era, uma figa que ganhei da minha mãe quando nasci.
- Hum... passa o telefone então...
- Queee telefone, que telefone, to saindo academia.
Terceiro blefe: tinham quatro celulares na minha mochila, um estragado, um com visor queimado e dois funcionando perfeitamente bem. Não estava com roupa de academia, tinha ido cedo para a academia, tomado banho lá, ido para minha análise e por fim, estava indo para casa.
- Tá, então vai... mas ohhh, se não viu nada...
Eu sai atordoada, não sabia se ria, ri. Saí pensando: "vê lá se eu ia perder minha figuinha assim...". Como tudo aquilo tinha sido inesperado, como se eu não estivesse afim de ser assaltada: "Ah não, hoje não!". Fiquei espantada comigo mesma. Muito espantada. Eu, não só negociei, como tirei uma com a cara do cara. Jesus! Me lembrei de uma vez que reagi assim. Ainda morava em Barra do Piraí, estava no terceiro ano do ensino médio e ia a pé e volatva apé para a escola. Minha pagava a passagem de volta, mas eu preferia economizar. O fato é que eu sempre encontrava com um cara bêbado de manha indo na minha direção contrária e que sempre me cantava. "Você é o amor da minha vida". Achava que era com todo mundo, até que um dia percebi que era pessoal: "eu te vejo passar todo dia, você é linda". Opa! O bêbado marca minha cara sim!
Minha casa é numa subida e antes da subida, na calçada da rua tem um orelhão. Nessa época a conta de telefone lá de casa andou vindo alta e eu tinha comprado um cartão de telefone para ligar desse orelhão que é pertinho. Estava eu no orelhão, tentando ligar quando sinto uma mão no meu ombro, sorri achando que era algum conhecido. Quando olhei para o lado era o bebum.
-Você é o amor da minha vida, casa comigo
-Sai daqui, sai, sai, sai fora, mete o pé... anda, mete o pé... vaza, vaza!
O bebâdo que estava bêbado tentou argumentar, falou algumas coisas e tinha um cara com ele que me fez o favor de convevê-lo a ir embora. Puta-que-pariu! É: PUTA-QUE-PARIU.
Foi a mesma sensação, fui para casa suando, morrendo de medo e assustada comigo mesma. Que isso! Expulsei o cara, eu tô maluca. Gente e se tivesse acontecido isso,k aquilo, aquilo outro...
Hoje também fiquei pensando nos milhões de coisas que poderia ter me acontecido. Cheguei em casa suando, pensei em ligar para casa e contar a minha vó. Ela ia reagir bem e depois meu tio ia encher a cabeça dela e ela me ligaria preocupada dizendo para eu não fazer mais isso, que é muito perigoso e que dessa vez eu tinha dado sorte e não se deve reagir a assaltos e blá, blá, blá. Não liguei, nem vou.
Fiquei pensando nisso o dia todo e já ri várias vezes. Só que estou com medo. Medo. Também tive medo do bêbado me encontrar de novo depois do dia do orelhão. Me encontrou e nada aconteceu.
Tive um certo desejo de encontrar o moleque de novo, ele passou por mim mais a frente no caminho, contornou de bicicleta e entrou numa outra rua. Nessa hora estava de cabeça baixa com um leve sorriso e quando o vi, engoli o sorriso com medo de que ele desconfiasse que estava blefando. Tinha que voltar a UFF a tarde e fui por fora, não passei pela rua do assalto, fiquei com medo de encontrar o tal. Mas fiquei com vontade de conhecer aquela pessoa, de ouvir sua história ou o que ele tem para dizer. Acho que é culpa da psicologia. É, eu tive vontade de atendê-lo e estou com medo de fazer o convite se o encontrar de novo. Não dá para saber como vou reagir. Fiquei imaginando como seria, atender no spa um "assaltante", vulgo "pivete".
Sei que apesar do medo acho um desaforo não passar pela rua que tanto gosto por causa desse tipo de coisa. É como se ele estivesse roubando a rua de mim, rua que eu acho que é mais minha do que dele. Sei também que a televisão não tem feito bem a esse moleque, parece que aprendeu assaltar assim. Cheio de clichês, de frases prontas, parecia tudo uma novela ou um filme de quinta.
Um comentário:
Isso já me aconteceu uma vez tb! igualzinho Li! É ruim pensar na nossa vulnerabilidade. No meu caso, fiquei com pena e raiva de ser abordado por playboyzinhos, sedentos por drogas. e cria uma paranoia braba! porque são locais onde a gente ta sempre passando! ainda mais mentindo pro sujeito então, putz! Mas relaxa! se precisar de um segurança, robusto e imponente, estamos ai! rs
Beijo linda!
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