domingo, 11 de outubro de 2009

É claro que eu iria até sua casa só para ouvir escondida atrás do muro você cantar Bob Marley enquanto lava roupa. E nos momentos que você deixasse o cd cantar sozinho, eu iria sentir sua falta e ia pedir em silêncio que você voltasse a me dar o prazer de sua voz. O barulho da água da torneira caindo na bacia, junto com aquele outro barulho que faz o movimento das suas mãos esfregando a roupa talvez já baste para que eu não me sinta tão sozinho, mas só o timbre brando da sua voz é capaz de me dar o conforto para continuar na luta de viver longe de ti: saber que você existe. Em algum lugar, não importa, se longe ou se perto, mas você existe. Continua vivendo em alguma parte de mim, do mundo. A certeza de que você está presente é tudo que preciso: saber que tenho para onde correr, meu querido abrigo. Que eu posso correr para os seus braços quando sentir muito medo ou dor. Durmo em paz, sabendo que amor eu tenho e que não mais preciso de nada, além da fantasia minha por ti. Afinal, quem canta enquanto lava a roupa sou eu e não você, mas é que nessa confusão entre nós, nos misturamos tanto que não saberia mais dizer quem sou eu e quem é você. Como se, agachada atrás do muro para te ouvir, ouvisse minha própria voz soltando notas em melodia harmoniosa. E como poderia ser diferente, se te levo para todos os lugares comigo, e se quando vai leva também uma parte minha, do que somos. Peço desculpas por te confundir com um alma tão impura como a minha, e se nessa brincadeira acabei te turvando um pouco e te fazendo se sentir tão obscuro, tão desonesto, sinceramente não era minha intençao. Mas, é que não sei te tomar assim como substância pura. E aquele a quem dedico meus sentimentos, não é mais do que uma experiência minha, criações dos meus sentidos, do meu próprio corpo, do meu próprio ser: coisas assim tão enganosas, tão imparciais, tendenciosas. Não és mais do que aquilo que invento, não és mais do que eu quero que sejas, amor.

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