sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Enfim só

Não sei o que Deus quer de mim. E esta é uma pergunta que tem me ido e vindo várias vezes há um tempo. Talvez desde que fui embora, talvez desde antes. Não sei onde ele quer que eu chegue, aonde quer me levar, o que quer que eu aprenda com todos esses "contratempos". Chego a ter medo do que posso me tornar. Medo que ainda está por vir, medo do título que Ele quer que me seja de direito. Há de haver muita luta ainda e os méritos só são colhidos depois de muito penar. Sim, obviamente vale a pena, mas não deixo de temer os males que me esperam. Ao menos não me falta certeza no caminho de flores. Se consegui melhorar tanto em tão pouco tempo, imagino a coleção que poderei ter no fim. Isso me tranquiliza. Nunca sofri de falta de fé, apenas, mortal que sou, deixei que ela se enfraquecesse em certos momentos.
As pistas sempre parecem indicar, de um jeito ou de outro, que o que eu tenho que aprender é ser sozinha, que no fundo é isso que sou, o que somos: sós. Tudo acaba sempre apontando para "um cada um por sí". Tenho perdido muitas coisas, tenho sido "privada" de muitas outras. Aprendido na marra, não pela cabeça dura que é um item da coleção de coisas que perrdi a tempos; mas pelas circunstâncias mesmo. Não tenho mais um ponto se quer de apoio. Tudo esvaiu-se. Não tenho uma só pessoa que possa me situar, que possa me tranquilizar com sua simples e completa existência.
Se lá não estou bem, sempre soube que seria ilusão achar que aqui estaria. Uma vez fora, impossível voltar ao que um dia se teve. A regra é andar para frente. A solução está sempre adiante e não no que não pode ser ou foi.
De qualquer forma, sinto minha alma mais perto, me sinto mais em mim. Talvez seja isso. Por mim mesma não iria trocar os outros pela minha presença. Agora que já não estão, escuto minha própria respiração no silêncio quase enlouquecedor da ausência de uma alma afim. Da alma que eu sempre senti saudade, desde que nasci, desde que adentrei nesse mundo e nesse corpo. Verdade, a saudade tinha passado, se ausentou por um período da minha vida, ou talvez só tivesse me observando de longe (ou não tão de longe). Posso dizer que talvez estivesse sentindo saudade da saudade, que ela é parte de mim, nasceu e deverá por direito, morrer comigo. Ser minha até o fim. Minha e de ninguém mais. Hoje, colei comigo mesma. Sinto o retorno de meu velho gosto de menina, a volta da criatividade pulsante e consigo sentir o calor da arte fervilhando em mim. Quero gritar. Gritaria. Gritaria se não fosse pelo coração apertado, se não fosse a saudade, a ausência sem começo nem pretensão de fim. Como se fosse possível a coexistência de dois corações: um cristalizado pelo frio do vazio impreenchível e outro aquecido e cheio de sonhos, a salvo da interferência que a presença de outros insistem em se fazer insistir. Um coração meu e um da multidão. De qualquer forma sinto-me de volta e cada vez mais perto. Ainda bem, por um instante fui tão feliz que achei que teria me perdido para sempre. Enfim, é como se ouvisse minha própria voz dizendo: "Tudo bem, eles já foram. Pode dormir em paz agora. Pode voltar a sonhar com o impreenchível preenchido e voltar sofrer sua felicidade sozinha. Ninguém há de ouvir seus soluços nem seus risos, além de você. Ninguém há de perturbar sua radiante tristeza."

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