sábado, 24 de novembro de 2007

Axiomas

É tudo uma questão cultural, "a cultura como uma lente", uma forma de construir o mundo. Quem disse que a ciência está certa, a grande dona da verdade? Apenas mais uma lente. E se acaso existir o Deus enganador de Descartes? E se tudo é uma irrealidade, e se nada é como é, mas sim como eu percebo e eu, posso estar equivocado. O que seria a verdadeira verdade, qual seria a cor da realidade exterior, como perceber algo sem me considerar, sem respeitar minhas visões, meus sentimentos, medos, gostos, sentidos. Tudo é codificado, a natureza é formatada a partir da minha visão cultural. Eu defini ontem e hoje, eles não existem sem quem os tenha definido, sem que se pense sobre ele, não há amanha na natureza pura e simples. Tempo e espaço não carregam nenhuma significação, sou eu quem os torna complexos, elaborados, classificados, hierarquizados. Como poderiam haver diversos calendários se o tempo fosse um só. O que existe são axiomas, coisas que funcionam, coesas, detentoras de sentido, de razão, para aqueles que a seguem. No caso da ciência, temos uma pressão muito maior. Ela não é local como um calendário, pelo contrário, todos os povos dizem amém para ela. É global, parte igualadora, o que é ciência é verdade em qualquer fuso horário. Pertencente inicialmente a um saber inteligível, que parte para a experiência para ter comprovação e se firmar. Um saber do campo matemático é deduzível, não sei porque acontece, não sei de causas, sei de efeitos. Newton não sabe porque existe a lei da inércia, só sabe que ela existe, precisa que ela exista, para pressupor todo um desencadeamento de fatos e evidências, tais, que só existem na área inteligível. São formas e fórmulas que não existem na natureza, nunca terão uma representação nela, a não ser que alguem já tenha visto alguma raíz de dois fazendo compras num supermercado. Está tudo na minha cabeça, na lógica, no meu pensamento, mas não no que o mundo me revela. Se eu principiasse do que me é tangível, do senso comum, tudo estaria controverso. As condições que eu calculo a velocidade de um objeto na física, não são possíveis de se darem na natureza, "desprezando a resistência do ar..." . Newton é tão dubitável quanto Aristóteles então. Até o séc XVII, ninguém sabia o que era a lei da inércia e as pessoas viviam, haviam muita gente viva nessa época, eu não preciso deste axioma para viver. E se ainda vivéssemos acreditando que os movimentos circulares são divinos, que tudo se move por um movimento violento e que todo movimento seu fim, quando se atinge seu lugar natural. Eu estaria viva mesmo assim e concerteza muito mais desenvolvida seira minha imaginação e criatividade. O mundo seria mais místico, fantástico, ilusório, e por que não? Não podemos hieraquizar, dizer Newton mais sábio que Aristóteles. São apenas culturas diferentes, épocas diferentes, talvez amanhã, todos nós abandonaremos nossas concepções científicas, em lugar de uma estrondosa descoberta, revolucionária, declinando toda nossa constituição científica. E, te digo que mesmo assim, continuaremos vivendo.

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